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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O FENÔMENO MALAFAIA

O FENÔMENO MALAFAIA



Para compreender um ator político e religioso como o denominado pastor Silas Malafaia eu penso que seja necessário uma caminhada um tanto quanto longa nos caminhos da reflexão, da análise e da síntese para que as mesmas sejam minimamente razoável. Principalmente pelo fato de estarmos em uma seara muito delicada, a ideia e o sentimento do sagrado. Mas ao mesmo tempo líderes religiosos desde a antiguidade têm o hábito de estreitar as suas relações com o que é profano. Tais relações entre o que é sagrado e entre o que é profano, sobretudo quando esse profano tem o caráter público do jogo político, coloca os atores investidos do reconhecimento da autoridade religiosa em uma quase inevitável corda bamba, afinal de contas aquele que se diz um padre, um médium, um pastor ou coisas do gênero está supostamente investidos de uma autoridade conferida pelo mundo "inquestionável" dos espíritos ou da unção divina, e esse mundo é dentro da psicopedagogia religiosa o lugar da verdade de Deus, dos deuses e dos espíritos. Mas o que fazer ou pensar quando uma liderança religiosa se encontra demasiadamente envolvida nos interesses da política oficial se desde Maquiavel principalmente nós já sabemos que verdade e política são coisas muito diferentes e distintas?

De fato o pastor Silas Malafaia quando aparece às nossas consciências coletivas aparece sempre dialogando com esses dois mundos, com o mundo da privacidade do sentimento religioso e com o caráter público do mundo da política. E como informação histórica quando a política foi inventada pelos antigos gregos ela foi elaborada com esse compromisso intrínseco de separação entre o que é público e entre o que é privado, ou seja, a ética política é a ética da aparição dos seus atores em um palco de falas e discursos, e não necessariamente a política é a aparição da verdade de Deus ou dos homens, principalmente na intenção dos seus principais atores, salvo para efeito de popularidade junto às massas que principalmente na velocidade das informações do mundo atual não terão tanto tempo assim para digerir profundamente cada conceito divulgado como supostamente verdadeiro.

Evidentemente que um líder religioso como o pastor Silas Malafaia se encontra de uma certa maneira sempre muito camuflado em meio ao calor proporcionado pela lã das ovelhas, e esse calor humano é bastante aquecido pelas lógicas sempre muito "coerentes" do seu carisma. Esse carisma é sempre adornado pelos colares, brincos e anéis de pérola das suas palavras e orações reconfortantes como "vamos orar pelo Brasil minha gente", "vamos orar pelo nosso presidente para que Deus ilumine os seus caminhos", "vamos levantar um clamor pelo Brasil igreja!". Todas essas frases, orações e posturas políticas o colocam como um suposto capelão da república brasileira, sobretudo com as suas mais recentes aproximações com o atual presidente eleito Jair Bolsonaro. Nesse contexto ele se apresenta principalmente como um pastor no cenário político e evidentemente como um mediador direto ou indireto do que os cristãos chamam historicamente de "a verdade de Deus " e os homens. Mas o que pensar desse personagem perante o que é a política no seu mais profundo significado? pois política é, sobretudo em um país do fisiologismo como o Brasil, ela é sempre um confuso e disputado jogo de interesses e não necessariamente um jogo de regras claras como as regras da verdade de Deus ou dos homens. Com isso eu estou dizendo que o pastor Silas Malafaia é um mentiroso ou uma espécie de cafajeste espiritual que falta com a verdade? de jeito nenhum, pois mentiroso no sentido mais amplo é o cidadão que não pratica a verdade objetiva nos seus compromissos privados e civis, mas a ética pública do compromisso político é a ética da aparição e não a ética da verdade moral como compromisso com a consciência e o sagrado. E como o pastor Silas Malafaia tem o hábito histórico de serpentear entre os mais diversos interesses e posturas políticas, quem ele é finalmente, um atalaia do que a religião do cristianismo histórico chama de a verdade de Deus ou um ator político que procura transformar as suas aspirações pessoais e políticas em verdade divina?

Quem o acompanha desde a algum tempo com o mínimo de atenção já presenciou muitas das suas contradições. Na sua juventude ele foi um crítico ferrenho da chamada Teologia da Prosperidade que era denominada nos idos das décadas de 70 e 80 principalmente de Teologia primeiromundista. Mas talvez por influência do neopentecostalismo no Brasil e por influência de alguns pregadores americanos como Moris Cerullo o pastor foi modificando gradativamente as suas falas em relação ao cristianismo e a prosperidade, a ponto de justificar a muita abundância do seu ministério e a sua prosperidade pessoal ao fato de ele ser uma espécie de Neymar dos púlpitos como ele o fez na sua célebre entrevista no programa da Marília Gabriela.

Na política ele já foi um dos maiores entusiastas da ascensão política do Eduardo Cunha que além de hoje ser um condenado da justiça por corrupção, as suspeitas sobre ele pairam no ar desde a década de 80 quando o mesmo foi o presidente da Loterj. No caso mensalão a pergunta que sempre pairou no ar é, será que o Lula não sabia? E nos casos Eduardo Cunha, será que o Malafaia nunca soube?

Em meados da segunda metade da década de 90 houve no Brasil um movimento religioso que ganhou proporções gigantescas, o G12. Malafaia a princípio se manifestou radicalmente contrário ao fenômeno, mas quando o mesmo percebeu que isso o desfavoreceria, sobretudo entre lideranças mais próximas a ele e que o encontravam regularmente em um conselho de pastores, o mesmo imediatamente e por razões politicoreligiosas desistiu imediatamente das suas investidas contra o G12.

De vez enquanto a sua voz ecoa em lugares muito improváveis como a Baixada Fluminense por exemplo apoiando algumas gentes de caráter muito duvidoso. Será que ele conhece profundamente esse pessoal a ponto de apoiá_los ou ele está serpenteando entre os seus mais diversos interesses?

O que eu achei mais estranho nesses últimos acontecimentos que o envolveram foi a postura dele perante ao que hoje o mesmo chama de "esquerdismo" ou coisa de "esquerdopatas", pois a bem poucos anos o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, o Lindbergh Farias e alguns outros membros do PT, se não me falha a memória o José Genoino e a Benedita da Silva, se encontravam no púlpito da Igreja do Malafaia para receber as orações da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e as bençãos do seu apoio político. Porém nos últimos dias ele foi um dos maiores entusiastas da causa "Cristão de verdade não vota na esquerda." Será que o Malafaia é um catecúmeno? pois a pouquíssimo tempo ele votou na esquerda. E não vale dizer que o PT tinha causas diferentes das atuais, pois a discussão de pautas polêmicas como as demandas sobre o aborto e sobre a comunidade LGBT já fazem parte do Partido dos Trabalhadores desde os seus dias de fundação, e agora estranhamente o Malafaia diz que um cristão que apoia qualquer candidato que tenha o aborto sequer como discussão política  é uma espécie de cafajeste espiritual.

Segundo alguém que diz que o conhece muito bem e assim eu creio por razões óbvias, o  reverendo Caio Fábio, o Silas Malafaia ao defender algumas causas aparentemente por convicção política ou religiosa o faz por dinheiro, e por incrível que pareça e como é do seu costume eu nunca vi e nem nunca ouvi o Malafaia confrontando as denúncias do reverendo direta e objetivamente, será porque hein?

De jeito nenhum eu estou dizendo que o pastor Silas Malafaia é um mentiroso ou uma espécie de cafajeste espiritual como ele costuma se referir a outros com o seu famoso "camarada safado!"inclusive eu creio que com os seus compromissos pessoais de homem religioso e de cidadão ele deve ser uma pessoa muito bem recomendada nos seus compromissos civis e privados, apenas eu penso que contrariamente as representações da cristandade o fenómeno político não é absolutamente o espaço da verdade, nesse caso os seus compromissos no espaço da aparição pública ficam muito comprometidos pela dinâmica do jogo político que se modifica muitíssimo de acordo com os interesses a serem apresentados, pois o pastor precisa segundo a minha percepção de um acurado exame de consciência para decidir se ele pretende ser um legítimo arauto do que o cristianismo histórico chama de "a verdade de Deus" ou um legítimo ator político brasileiro pendular que serpenteia entre os mais diversos interesses, pois política e verdade são coisas muito diferentes e distintas.



Eldon de A Risamasson



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