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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

DESASTRE ANUNCIADO



Faço dela minhas palavras:
DESASTRE ANUNCIADO
Por Malu Aires

Se era o que faltava, não falta mais.
A Bolsa despencou, depois que os jornais do mundo não entenderam aquela aparição desconcertantemente alaranjada, em Davos.

Corre fofoca de que correu fofoca nos corredores do evento, envolvendo os Bolsonaro à morte de Marielle.
Marielle é nome vivo na Europa. Uma rua na Alemanha leva seu nome e, lá, não há milicianos arrancando e quebrando placas.

O discurso nervoso, inseguro, despreparado, vago, explica porque não fazia sentido torturar os espectadores com mais 40 minutos daquele horrorshow.

Todo mundo quer tapete vermelho, avião oficial, caviar, champanhe a bordo, hotel 8 estrelas. Trabalhar que é bom...
Quando entraram no AeroLula, esqueceram o caderno da lição, em casa.
Desde junho do ano passado, Bolsonaro evita apresentar projeto de governo para a economia. Ele não tem ideia de como fazer isso.
O Mercado precisa de palavras gentis para ações hostis. Bolsonaro não entende nada disso e Guedes nunca deu satisfação dos seus rolos.

Guedes e Bolsonaro não se entendem porque Bolsonaro não entende. Bolsonaro leva comitiva pra Davos, convida o filho racista pro passeio e, em 6 minutos, faz o Brasil perder bilhões com o mercado árabe.

Longe de ser um orador, Bolsonaro ainda sofre com dificuldades de leitura. Não serve nem pro papel.

Bolsonaro está isolado. Ele, Eduardo e nada de assessores para ajudá-los, nem com o inglês básico. A família se cercou, por 30 anos, de funcionários fantasmas que não são úteis, hoje.

O brasileiro acorda todo dia e tem que encarar essa farsa. Vendo essa gente desonesta e perigosa, se apropriando de tudo que é público e tratando como privado.

O brasileiro precisava encarar a patifaria, sofrer, diariamente, com o descaramento, para voltar a ter orgulho de si mesmo.
O "eu avisei" é libertador, pra todos os trabalhadores que foram ameaçados, em 2018, porque já sabiam.

A cara de atropelado por um guindaste, do Jair, é muito boa de se ver. É bom ver o coiote levando rasteira do papa-léguas. É bom ver que o castigo vem mesmo a galope. Isso dá esperança pra gente cansada de injustiça.

Jair, o vexame de Davos, continua sendo o mito dos abobalhados que não têm noção do porquê um país precisa de um Presidente da República.

Bolsonaro, acreditou que seria a estrela de Davos. Mas estrela que não brilha é buraco negro.

Em 2010, Davos deu a Lula, o prêmio inédito de Estadista Global.
Bolsonaro foi lá se medir a um Estadista Global e perdeu a oportunidade de ficar aqui, quieto, escondido no Einstein.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O elo entre Flávio Bolsonaro e a milícia investigada pela morte de Marielle Operação Intocáveis busca miliciano que tinha mãe e mulher lotadas no gabinete do então deputado estadual.Filho de presidente diz que nomeações foram feitas por Queiroz, que confirmou informação



Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega. As duas mulheres são o elo entre o senador eleito Flávio Bolsonaro e o grupo miliciano Escritório do Crime, um dos mais poderosos do Rio. O grupo é também suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Segundo o jornal O Globo, Raimunda e Danielle são, respectivamente, mãe e mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, vulgo Gordinho, tido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como uma das lideranças do Escritório do Crime. As duas foram lotadas no gabinete do então deputado estadual Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, mas o filho do presidente diz não ter sido responsável pelas nomeações




Adriano, que está foragido, foi um dos alvos da Operação Intocáveis, realizada nesta terça-feira por uma força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público. Foram presos cinco suspeitos de integrar a milícia que agia nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema. Além do suposto envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson, o grupo é acusado de extorsão de moradores e comerciantes, agiotagem, pagamento de propina e grilagem de terras.
Entre os detidos esta o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, vulgo Tartaruga, que irá a júri popular no caso da chacina da Via Show, ocorrida em 2003. Apesar disso, em 2004 o deputado Flávio Bolsonaro propôs uma “menção de louvor e congratulações” ao então capitão Pereira. Adriano também foi homenageado. Tanto Ronald como Adriano foram ouvidos em 2018 pela Delegacia de Homicídios como parte das investigações caso Marielle.

Apesar do foco da ação desta terça ser o combate às milícias, a operação deve desgastar ainda mais o primogênito do clã Bolsonaro no caso Queiroz. Isso porque, além do parentesco com um suspeito do envolvimento na morte de Marielle e Anderson, Raimunda é mencionada no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras como sendo responsável por parte dos depósitos feitos na conta do ex-motorista Fabrício Queiroz. Ela e Danielle foram exoneradas do gabinete de Flávio em 13 de novembro, segundo consta no Diário Oficial.
Em nota, Flávio afirmou ser "vítima de uma campanha difamatória com o objetivo de atingir o Governo de Jair Bolsonaro". Segundo ele, "a funcionária que aparece no relatório do Coaf foi contratada por indicação do ex-assessor Fabrício Queiroz". De acordo com o senador, ele não pode "ser responsabilizado por atos que desconheço". Horas depois, o próprio Queiroz confirmou, por meio de nota divulgada por sua defesa, que veio dele a indicação para a contratação, um ato de solidariedade com a família, “que passava por grande dificuldade, pois à época ele [Adriano Nóbrega] estava injustamente preso, em razão de um auto de resistência”.
Não é a primeira vez que o clã Bolsonaro se vê envolvido na discussão sobre milícias. Em 2008, época em que ainda era deputado federal, Jair chegou a defender a atuação destes grupos criminosos no plenário da Câmara. "Existe miliciano que não tem nada a ver com 'gatonet' e venda de gás. Como ele ganha 850 reais por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade", afirmou. Em outra ocasião, naquele mesmo ano, o capitão da reserva foi ainda mais direto: “Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas".
Queiroz é citado no relatório do Coaf após ter sido identificada uma movimentação atípica no valor de 1,2 milhão de reais em sua conta entre 2016 e 2017, valor incompatível com seus vencimentos de assessor parlamentar segundo o órgão. De acordo com ele, o valor seria fruto de operações de compra e venda de carros usados. Depois que o caso veio à tona, o ex-motorista de Flávio desapareceu. Segundo o colunista do Globo, Lauro Jardim, ele ficou abrigado por duas semanas em uma casa na comunidade Rio das Pedras, onde a milícia alvo da Operação Intocáveis agia.
Nos últimos dias documentos do Coaf divulgados pelo Jornal Nacional apontam que Flávio realizou um pagamento milionário de título bancário, além de ter recebido 96.000 reais pagos em espécie, em vários depósitos de 2.000 reais. Ele afirma que o título é referente ao pagamento de um imóvel adquirido na planta, e que os depósitos são fruto da venda de um apartamento - o comprador, Flávio Guerra, confirma a compra. Segundo ele, a opção por realizar vários depósitos no caixa eletrônico foi feita para evitar "pegar fila" na agência bancária.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa dos acusados.


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*REDE PT*
*PT Nacional* - Haddad: governo pode ser avaliado pelo discurso de Bolsonaro em Davos
“O Brasil nunca foi tão mal representado num fórum internacional. Ele mal conseguia falar o que tinha ido dizer”, disse ex-prefeito paulistano em Lisboa
https://bit.ly/2UcXZBg



*PT Nacional* - “Bolsonaro me dá medo”, diz Nobel da Economia após discurso em Davos
Fala de Bolsonaro foi alvo de críticas por ser curta e genérica, além de ser considerada um nível de representação muito abaixo do que o Brasil merece
https://bit.ly/2S4f1Uu

*IMPRENSA PROGRESSISTA*
*Brasil 247* - Flávio mantém assessores suspeitos em seu gabinete
O filho-estopim de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), continua sendo uma usina de crises e constrangimentos para o governo; o senador eleito mantém empregados na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) quatro servidores mencionados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) por transações suspeitas; três deles permanecem lotados no gabinete do parlamentar, enquanto um está nomeado na liderança do PSL (Flávio é o líder do partido); a conta chega a assustar: nove (9) assessores e ex-assessores do deputado foram listados pelo Coaf
https://bit.ly/2sIFXuO



*Carta Capital* - “Silêncio de Bolsonaro sobre desigualdade é o mais notável”, diz Celso Amorim
Para o ex-chanceler, o silêncio de Bolsonaro sobre América Latina, África e desigualdade disse mais que seu (curto) discurso em Davos
https://bit.ly/2S1zbi0

*Rede Brasil Atual* - Queiroz, Flávio, milicianos: o que se sabe e as perguntas ainda sem resposta
Início de governo eleito com discurso antissistema e anticorrupção é marcado por graves denúncias. Milícias do Rio de Janeiro entram na história. E os Bolsonaro, pai e filho, devem explicações ao país
https://bit.ly/2T8QNG6

*GRANDE IMPRENSA*
*Folha de S. Paulo -* Previdência caminha para incluir militares em novas regras
Bolsonaro adota como mote liderar pelo exemplo para as Forças Armadas; ele vai apresentar reforma após cirurgia
https://bit.ly/2AXggeD



*Folha de S. Paulo* - Bolsonaro 'flopa' com discurso curto e sem respostas concretas, dizem publicações no exterior
Para mercado, discurso foi raso
https://bit.ly/2FTTDLa

*O Estado de S. Paulo* - Receita decide investigar nomes citados pelo Coaf na Assembleia do Rio
Fisco fará pente-fino em informações de movimentações financeiras de deputados
https://bit.ly/2RH8gJ9

*O Estado de S. Paulo* - Na disputa pelo comando do Senado, Renan quer ser o candidato 'anti-Moro'
https://bit.ly/2T8xXPf

*G1 -* Escutas revelam ameaças de miliciano a moradores de comunidade no Rio
https://glo.bo/2UbdEAK

domingo, 13 de janeiro de 2019

Benjamin Moser é um escritor e historiador estadunidense que vive em Utrecht, Países Baixos. Por sua biografia de Clarice Lispector ele recebeu em 2016 o Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil.



Que texto do escritor americano Benjamin Moser !!!

Carta ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil

Prezado ministro,

Há pouco mais de dois anos, o ministério que o senhor hoje encabeça me outorgou o Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural. Foi um reconhecimento do meu trabalho e trouxe consigo uma obrigação de continuar trabalhando em prol do Brasil —de ser algo como um amigo oficial do Brasil. E é nesta capacidade que lhe escrevo.

Recentemente, o senhor publicou uma matéria no meu idioma, o inglês, e no meu país, os Estados Unidos (“Bolsonaro was not elected to take Brazil as he found it”, ou “Bolsonaro não foi eleito para deixar o Brasil como o encontrou”, na Bloomberg, em 7/1). Se respondo em português, é por dois motivos.

Primeiro, porque sua matéria ilustra muito bem que saber a gramática ou o vocabulário de outra língua não implica compreender suas sutilezas: como soa. Se tivesse maior noção do meu idioma, seria de esperar que não houvesse publicado uma coisa que —digo francamente— expõe o Brasil ao ridículo.

E essa é a segunda razão pela qual lhe respondo em português. Apesar de não ser de nacionalidade brasileira, o Brasil não me é de maneira nenhuma alheio. Desagrada-me profundamente vê-lo alvo de risadas internacionais. Gostaria, pois, que esta conversa ficasse entre nós —em português.

Em inglês, a sua vinculação da política externa com Ludwig Wittgenstein soa bizarra. Suspeito que não seja sua intenção —que é, se estou lendo bem, de deslumbrar o leitor com frases como “desconstrução pós-moderna avant la lettre do sujeito humano e negação da realidade do pensamento”.

Sabe aquele estudante de pós-graduação que encurrala a menina na festa falando de Derrida ou Baudrillard?

Pois é.

Aliás, em inglês, proclamar “não gosto de Wittgenstein” soa pretensioso, arrogante. Sabe aquele homem que, diante de um Picasso, diz que sua filha de quatro anos poderia ter feito melhor?

Pois é.

Mas, além do tom, qual é mesmo seu problema com Wittgenstein? Vejo que não é sequer uma frase inteira, mas uma parte de uma frase: “O mundo tal como o encontramos.”

O senhor lê isso como um pedido —uma ordem, até— de aceitar tudo no mundo tal como é, de não tentar mudar nada, de se comportar como se não tivesse vontade própria. Se acompanho a sua lógica, é assim que o Brasil tem se comportado durante todos os governos, de esquerda como de direita, que precederam o atual.

Para quem conhece a obra de Wittgenstein —assim como para quem tem noções da história diplomática brasileira—, isso pode soar inexato. Mas o senhor pretende romper um padrão que tem impedido o surgimento da verdadeira grandeza do Brasil. O país, segundo o senhor, antes disse: “Eu não acho nada. Eu não tenho ideias. Assim como o sujeito desconstruído de Wittgenstein, eu não tenho um ‘eu’.”

Eu não caracterizaria o trabalho de gerações de diplomatas brasileiros assim. Imagino que, em português, possa soar desdenhoso. Mas estamos falando de como soa em inglês, e, se muito ficou incerto na sua matéria, uma coisa ficou clara: sua vontade de mudar a imagem do Brasil no mundo.

De fato, em poucos meses, essa imagem já mudou bastante. Temo que não seja na direção que o senhor pretende. Pois, em todos os meus anos de brasiliófilo, nunca vi tantas matérias ruins sobre o Brasil surgirem na imprensa europeia e americana. Isso deve ser motivo de preocupação para um chanceler. Porque o Brasil, apesar de seus problemas, sempre desfrutou de um nome positivo no mundo.

O racismo, a homofobia e a saudade da ditadura da nova administração têm sido fartamente comentados na imprensa mundial. Em inglês, o tom dessa cobertura tem sido extremamente negativo. Um chanceler deve poder responder num inglês sereno e compreensível e explicar as razões que levam o novo governo a adotar tal e tal medida.

Quando se dirige a um público internacional, uma coisa a evitar a todo preço é o emprego de termos —“globalistas,” “marxistas,” “anticosmopolitas,” “valores cristãos”— que, em inglês, têm fortes conotações antissemitas.

São extraídos do léxico de conspiração global judaica, e, dada a história deste léxico, pessoas civilizadas, tanto de direita como de esquerda, aprenderam a evitá-lo.

Quando se fala inglês, é preferível, em geral, evitar falar de conspirações. Dá a impressão de ter passado a noite em claro na internet decifrando os segredos das pirâmides. Talvez seja por isso que suas descrições sobre o aquecimento global como trama marxista tenham sido tão amplamente ridicularizadas na imprensa mundial.

Quem, em língua inglesa, quer ser levado a sério evita tais caracterizações. E não é mesmo este o maior desejo do senhor, o de ser levado a sério? É a única coisa que fica clara debaixo da linguagem um tanto acalorada.

A novidade que o senhor anuncia não é outra coisa senão a mais antiga emoção do conservador brasileiro: o ufanismo magoado.

Este é o sentimento de quem quer uma nação que esteja à altura da imagem —muitas vezes exagerada— que tem de si próprio.

Se o senhor imagina que o Brasil não é suficientemente respeitado, seria bom nos brindar com pelo menos um exemplo; na minha experiência, vasta, do Brasil no âmbito internacional, confesso que nunca percebi a falta de respeito.

Mas, mesmo que ela existisse, seria bom lembrar que, em qualquer país, o respeito não se exige. Com paciência e trabalho, se ganha.

Ninguém sabe melhor do que eu os lados positivos que tem o Brasil. Mas, sabemos, brasileiros e estrangeiros, que o Brasil também tem uma cara feia. E é essa cara que seu tom me traz à mente. É o tom daquele patrão que grita “faça que tô mandando!” para a empregada. Asseguro-lhe que não fica mais elegante em tradução inglesa.

Infelizmente, não é apenas uma questão de tom. Desde o primeiro dia, este governo deu a impressão de querer abusar das pessoas mais vulneráveis da sociedade. Todos os jornais do mundo têm noticiado os ataques aos índios e à população LGBT, além da redução do salário mínimo para os trabalhadores mais pobres.

É possível que haja explicações razoáveis para tais medidas, mas confesso que até agora não as vi. De novo, seria mais eficaz explicá-las com calma do que andar pelo mundo proclamando que os brasileiros não são mais “robôs pós-modernos” e que não suportarão mais “a opressão wittgensteiniana da morte-do-sujeito.”

Porque, ironicamente, é seu medo de ver as pessoas zombarem do Brasil que fará... as pessoas zombarem do Brasil. Deve ter visto a ministra Damares gritando que “menino veste azul e menina veste rosa!” e notado como isso repercutiu pelo mundo. As suas declarações também não ajudam a que as pessoas levem o Brasil a sério.

Se há um ponto em que estamos em total acordo é que também não gosto de ver o Brasil ridicularizado. Por isso, lhe encorajo a lembrar em nome de quem está falando. E de escolher com mais tato, em português como em inglês, as suas palavras.

O senhor se descreve, no seu Instagram, como “ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro”. Não é.

É ministro das Relações Exteriores do Brasil.

Seria bom que se comportasse com a dignidade que tal posição exige.

E se, no futuro, tiver uma dúvida de inglês, pode sempre entrar em contato comigo.

Cordialmente,
Benjamin Moser

Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural, 2016, escritor norte-americano, autor da biografia ‘Clarice’ (Companhia das Letras) e de ‘Susan Sontag: Sua Vida e Obra’, que sai no final do ano também pela Companhia das Letras

*Precisamos falar sobre militares e soberania*,senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT




*Precisamos falar sobre militares e soberania*,senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT

Jair Bolsonaro nomeou inúmeros oficiais-generais para o governo.
A Constituição lhe garante o direito de nomear ministros e, a estes, de exercer as funções.
As Forças Armadas têm homens e mulheres preparados, competentes.
Convivi e trabalhei com muitos quando exerci a chefia da Casa Civil.
Mas, como ministros, deixam de ser chefes militares e passam a ser cidadãos que ocupam cargos públicos importantes.

É assim que é preciso ser.
Política com armas leva, inexoravelmente, à imposição, à ditadura.
Nossa Constituição cuidou de deixar claro os papéis das instituições, afastando as Forças Armadas da política.
Por isso é muito preocupante que Bolsonaro chegue a sugerir que sua autoridade se lastreia mais nos companheiros das Forças do que no voto popular.
Isso é perigoso para o país, a democracia e as Forças Armadas.
Também é grave que alguns generais ecoem e até pautem o discurso do presidente contra as esquerdas e movimentos sociais, falseando o modo como o PT se relacionou com os militares.
Alto lá!

Os governos do PT trataram as Forças Armadas com respeito e dignidade, integrando-as ao esforço democrático de desenvolvimento nacional.
Devem se recordar que, em agosto de 2002, o Exército teve de dispensar 44 mil recrutas (quase 90% do total) porque o então presidente FHC – filho, sobrinho e neto de generais – cortou as verbas do soldo e da alimentação.
Os recrutas que ficaram eram dispensados ao meio-dia: faltava rancho.
Cabos e sargentos não tinham dinheiro para comprar botas.

A partir de 2004 houve recuperação do soldo e aumentos reais.
O último decreto dessa nova política foi assinado por Dilma Rousseff, em dezembro 2015: um aumento médio de 30% escalonado em 3 anos, que se completou no dia da posse de Bolsonaro.
Graças a Lula e Dilma, o soldo de um general, que em 2004 era de R$ 4.950, é hoje de R$ 14.031, um ganho real de 32,7% sobre a inflação do INPC.
O soldo do ex-capitão Bolsonaro, que era de R$ 2.970, agora é de R$ 9.135; aumento real de 50%.
Fora os adicionais, que variam de 13% a 28%, quanto mais alta a patente, e outras gratificações.

Aquelas tropas desmoralizadas, mal armadas e mal treinadas, foram usadas nos governos tucanos para reprimir o povo em greves e movimentos sociais.
Em maio de 1995, o Exército ocupou 5 refinarias da Petrobrás para esmagar a greve dos petroleiros.
Em 1996, 97 e 98, o Exército reprimiu protestos e ocupações em Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Sul do Pará.
Foi criada uma divisão de inteligência exclusivamente para espionar o MST, que utilizou até imagens de satélites para mapear acampamentos.

O governo Lula convocou as Forças Armadas a defender o povo, o território e a soberania nacional.
Estes são os valores inscritos na Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008, em rico diálogo com os militares, e atualizada em 2012.
A END previu o desenvolvimento da indústria bélica e o reequipamento e instrução necessários para a defesa do espaço aéreo, do vasto território pátrio e da chamada Amazônia Azul, onde é explorada nossa maior riqueza: o pré-sal.

Para cumprir esses objetivos, o Orçamento da Defesa (incluindo as três Forças), passou de R$ 33 bilhões para R$ 92,3 bilhões nos governos do PT.
Segundo o respeitado Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo, o gasto militar brasileiro passou de US$ 15 bilhões em 2002 para US $ 25 bilhões em 2014 (dólar médio de 2015).
Ou seja: um país que há 150 anos não tem conflitos de fronteira passou a ocupar a 11a. posição em investimentos militares no mundo (em dois anos de golpe já perdemos 3 posições e desde fevereiro o Exército voltou a reduzir o expediente por corte de verbas).

Iniciamos a construção do submarino nuclear, submarinos convencionais, navios-patrulha e mísseis antinavios.
Renovamos a frota de helicópteros, investimos R$ 4,5 bilhões para a Embraer desenvolver o cargueiro KC-390, um sucesso mundial, e contratamos os caças Grippen, escolhidos pela Aeronáutica por critérios técnicos, com transferência de tecnologia.
Contratamos o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação Estratégica, para garantir a soberania nas telecomunicações, os blindados Guarani e os fuzis IA2, fabricados no Brasil.
Aumentamos a segurança criando empregos e desenvolvendo tecnologia.

E ao invés de servir como cossacos contra os trabalhadores, as Forças Armadas foram convocadas nos governos petistas para tarefas de alto prestígio – como o comando das Forças de Paz da ONU no Haiti e no Líbano, além de ações em outros 7 países.
E para programas sociais relevantes, como o Soldado-Cidadão, o combate à seca e a construção de obras estratégicas, como a do rio São Francisco.

Lula adotou o critério da antiguidade e experiência na indicação dos comandantes.
Alguns dos que hoje o atacam, velada ou publicamente, tiveram nos governos do PT as oportunidades que lhes conferiram prestígio dentro e fora das Forças Armadas, sem que ninguém lhes perguntasse suas opiniões políticas.
Não têm moral para acusar o PT de fazer nomeações “ideológicas”, como diz Bolsonaro.
Discordem de Lula e do PT; critiquem, governem diferente, mas não percam o respeito à verdade nem ao ex-comandante supremo a quem um dia juraram lealdade e que lhes devolveu a dignidade.
E defendam a soberania.

Os generais-ministros de Bolsonaro eram adolescentes em 1964.
Alguns talvez tenham reprimido passeatas em 1968.
Na Academia Militar, certamente ouviam falar das torturas e perseguições; em 79, compartilhavam angústias morais e corporativas sobre a Anistia; e devem ter se envergonhado, em 1981, com o atentado do Riocentro, que desmoralizou toda uma geração de comandantes.
Mas viveram o pacto democrático da Constituição de 1988 e tiveram, a partir de 2003, a oportunidade de servir à pátria num governo que lhes deu condições objetivas de promover a soberania nacional.

Hoje, no conturbado governo Bolsonaro, estão associados ao financista Paulo Guedes, que pretende aprofundar a destruição do país: a venda da Embraer (e com ela nossa tecnologia), a paralisação do submarino nuclear (urdida por procuradores e juízes a serviço dos EUA); a desnacionalização da base de Alcântara; a quebra do contrato dos caças Grippen (outro interesse dos EUA); a entrega do pré-sal aos estrangeiros; a privatização dos bancos que financiam a agricultura pequena ou grande.
Seu único projeto conhecido na área militar é a involução do GSI para uma polícia política, cúmplice do Ministério Moro.

De resto, Bolsonaro humilha o Brasil com a subserviência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua política externa irracional e prejudicial ao país.
Os generais-ministros respondem à própria consciência pela opção política e os métodos que empregaram na conspiração para derrubar Dilma e vetar a candidatura Lula.
Servem hoje a um governo sem rumo e sem comando, que enfrentará muitas divergências para implantar as propostas antinacionais.
Mas os generais-ministros não serão julgados pela história e pelas futuras gerações de militares apenas por suas opções políticas e morais.
Serão julgados principalmente pelo compromisso com a soberania nacional.

sábado, 12 de janeiro de 2019

As casas aos poucos vão caindo, uma a uma❗😎😎😎

Anotem a data, 11 de janeiro de 2019, o dia em que eu concordei com Olavo de Carvalho!
O guru de Biroliro disse recentemente que a direita errou ao chegar ao poder sem antes vencer a guerra pela hegemonia cultural e antecipou a derrota da aventura Bolsonarista, por conta dessa falha.
O filósofo maluco está, nesse caso, totalmente certo.
A combinação de fatores que levou a idiotice ao poder no Brasil não trouxe no pacote a estrutura de produção cultural e intelectual necessária para dar suporte ao novo sistema.
Eles não tem produção de pensamento com qualidade para convencer a massa a apoiar as mudanças que tentarão implantar, com exceção de alguns itens da agenda comportamental.
As grandes mudanças, principalmente na economia, eventualmente terão que ser explicadas para o povo, e aí a superioridade intelectual da esquerda, em contraponto, poderá fazer a diferença.
Eles imaginam que o Brasil mudou com a eleição do mito, o que é um erro crasso de avaliação.
O Brasil continua o mesmo de sempre, com seus problemas, seus costumes e suas contradições, que não serão resolvidas por obra e graça das poucas qualidades do mito.
A guerra contra a reforma da previdência, quando tomar as ruas, vai demonstrar o que estou dizendo.
Olavão percebeu que a ascensão de Bolsonaro se deu por conta de fatores muito específicos, corporativos e de disputa política, que nada tem a ver com uma mudança de paradigma da sociedade.
Hoje, e só hoje, eu concordo com ele.
Via Fernando Lopez.

Queiróz... 🍊 dos Bostanazi debocha da sociedade que o pariu❗❗No hospital Albert Einstein 🤔

MADURO, ATÉ O FIM



MADURO, ATÉ O FIM

Eu juro que queria ter essas certezas absolutas que leio em toda parte sobre a tal ditadura de Nicolás Maduro, mas não tenho. E por uma razão bem simples: são todas enviesadas, tanto pela direita que o odeia como pela esquerda que o inveja.

O fato é que Maduro, apesar de ser atacado pelos Estados Unidos sem intermediários, está de pé. A Venezuela não se dobrou, nem mesmo fustigada por uma crise econômica devastadora, com as consequências sociais que todos testemunhamos.

O Brasil, pelas mãos de um juiz de primeira instância apoiado por uma multidão de analfabetos políticos, não só sucumbiu ao um golpe parlamentar como, de quebra, elegeu uma besta quadrada cercada de lunáticos e fanáticos religiosos.

É preciso ter em mente que toda a informação que temos sobre a Venezuela é filtrada pela mídia, a nossa mídia, a pior e mais servil do planeta. Nela, a Venezuela é uma ditadura porque o presidente domina os poderes constituídos e as Forças Armadas, sem dar moleza a uma oposição golpista e entreguista, que ama mais Miami que o país onde mora.

Ou seja, tudo que o PT foi acusado de fazer, mas não fez, para desgraça de todos.

Todas as eleições na Venezuela, desde a Era Chávez, portanto, há quase duas décadas, são realizadas com a presença de observadores internacionais. Todas.

Na última, em maio de 2018, foram 200 observadores, sem que nenhuma ocorrência de fraude fosse notificada. Nenhuma. O voto na Venezuela sequer é obrigatório, portanto, não há, como ocorre aqui, a possibilidade de criação de currais eleitorais. Há, sim, gente politizada, principalmente, à esquerda.

A posse de Maduro contou com delegações internacionais de 94 países, além de representantes de organismos internacionais como as diversas agências da ONU, a Organização da Unidade Africana (OUA) e a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) – da qual ele será o próximo presidente.

Maduro e o povo venezuelano são odiados por gente como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Em 2015, uma patética comitiva de senadores comandada por Aécio Neves, do PSDB, com gente do naipe de Ronaldo Caiado e Aloysio Nunes Ferreira, foi a Caracas para criar um factoide contra Maduro. Foram recebidos a pedradas e tiveram que voltar com o rabo entre as pernas.

Aqui, deixaram essa gente se criar. Agora, com a ajuda de certa esquerda ressentida, ficam criticando a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, por prestigiar a posse de Maduro.

Fez ela muito bem.


Gleisi, sobrenome Coragem.

Gleisi Hoffmann foi à posse de Nicolás Maduro. Essa mulher será o fiel da balança em 2019. Ela não se intimida com absolutamente nada.

Sua maneira de liderar o maior partido político do país foi ficando cada vez mais densa e articulada. Ela "encaixou".

Vale lembrar: Gleisi assumiu o PT no momento mais delicado da história do partido e do país. O desafio era imenso. Não é trivial calibrar o discurso em momento tão hostil, quase em um colapso generalizado dos sentidos políticos e sociais.

Mais uma vez, a intuição de Lula funcionou como uma prévia histórica dos protagonismos políticos. Lula apoiou Gleisi à presidência do partido para surpresa de muitos àquele momento.

Ele apostara mais uma vez na força da mulher.

Depois de espancarem a democracia e a presidenta eleita Dilma Rousseff, Lula entendeu - com sua inteligência feminina e intuitiva - que não era a hora de recuar nesse quesito simbólico, impregnado de sentido político: o protagonismo da mulher.

Gleisi Hoffmann simplesmente domina a cena da ação democrática neste momento, com o discurso mais sólido e mais investido de legitimidade política.

Ela enquadrou Ciro Gomes, coisa que nenhum "homem" de esquerda havia feito até então. Com imensa classe, diga-se de passagem.

Ela chamou os militares para uma "conversa séria", sem os ideologismos 'cansados' do bolsonarismo.

Seu texto é primoroso. Ela dá o tom discursivo que a guerra política provocada pelos maus perdedores enseja. Não recua um milímetro, não cede, não capitula, não tem medo - e isso está em seu estilo de escrita. 

Gleisi Hoffmann usa o Twitter e as redes sociais com a grandeza política real de uma protagonista que se dá ao respeito e impõe respeito. Ela sempre aparece para restituir a verdade factual, para responder a bolsonaristas covardes, para debater com quem tiver a devida coragem.

Gleisi Hoffmann, me parece, foi 'picada' pela mesma mosca da democracia que picou Lula nos anos 70. Ela 'sente' o país, tornou-se dotada de um timing político que só os grande estadistas - raríssimos - dignos do nome podem ter.

Ela está iluminada. A cada momento em que protagoniza a cena pública, ela surge mais densa, mais assertiva e mais corrosiva.

Gleisi parece ter se cansado do "bom comportamento" institucional que paralisa as ações políticas reais no Brasil. Com um país mergulhado em um sucateamento institucional, em um colapso moral do poder judiciário, não haveria como esperar outro comportamento de alguém que precisa chamar para si a responsabilidade histórica pela retomada da democracia e do Estado Democrático de Direito.

Gleisi foi sendo "ferida" e, ao mesmo tempo, foi "resistindo" e se tornando mais forte. Foi sofrendo junto com Lula cada violência dirigida ao ex-presidente, como se assimilasse a dor política que Lula deveria sentir e não sente - dada a certeza de Lula de que esse jogo, cedo ou tarde, vira.

Gleisi se tornou a voz de um Lula humano, muito mais do que a voz institucional de Lula que ela representa institucionalmente tão bem - sob o desejo e a chancela de Lula. Ela extrapolou a mensagem política. Ela trouxe um Lula 'vivo' e 'vibrante' para o tom de seu discurso. Seu ethos representa Lula, não apenas sua posição e sua gramática.

Segura essa mulher no Congresso em 2019. Gleisi Hoffmann vai liderar a oposição como nenhum Ciro Gomes sequer roçou sonhar na vida. Gleisi constrói, conversa, dialoga, articula, busca o movimento virtuoso da argumentação soberana.

Com esse conjunto de qualidades, não é surpresa também que Gleisi tenha começado a inflamar a militância e as redes sociais. O volume de seus seguidores é cada vez maior e mais insinuante, bem como o seu poder de fascinação sobre aqueles que sentem a democracia na própria dimensão do afeto.

Gleisi desperta o mesmo sentimento de amor que Lula desperta porque, afinal, ela também 'sente' o país e o povo deste país como Lula 'sente'.

É uma rara felicidade ver nascer uma protagonista política desta dimensão. Gleisi sempre foi imensa. Mas, agora, ela é a própria esperança encarnada.

Gustavo Conde.

*Índios, Bolsonaro e seu pecado* _Leão Serva_, Folha de S.Paulo, 28.dez.2018



*Índios, Bolsonaro e seu pecado*
_Leão Serva_, Folha de S.Paulo, 28.dez.2018

Escrevo sentado em uma casinha próxima a uma comunidade de índios de contato recente na Amazônia, os suruwahá. Ao terminar, mando o artigo para o jornal usando a antena local de wi-fi. Entre outras histórias, acompanho o tratamento dentário que foi oferecido a dezenas de pessoas do grupo, cerca de 50 homens e mulheres que receberam próteses produzidas em impressoras 3D.

É possível que nem o dentista do futuro presidente, Jair Bolsonaro, tenha acesso a esse equipamento, ainda raro no país. Mesmo assim, leio no site da Folha o eleito dizer que "os índios querem internet e dentista" e que vai dar isso a eles. Não vai dar, porque eles já têm.

Bolsonaro tem especial predileção para falar de índios. Mas parece que escuta a arara cantar e não sabe onde, como se só os conhecesse dos filmes de Hollywood ou de ouvir falar (mal).

Diz o eleito que os índios precisam empreender. Pois, a esta altura, a lista dos produtos indígenas bem-sucedidos não cabe neste artigo. O chef mais famoso do Brasil, Alex Atala, fez de seus temperos a base de pratos badalados, que rendem mais ao país que muitos hectares de soja.
Em Roraima, índios criam uma em cada dez cabeças de gado; no Acre, constroem uma fábrica de polpa, para otimizar sua produção de frutas, e exportam urucum para multinacional de cosméticos. Mas nesses lugares, elites preconceituosas negam os fatos, para manter o estigma do índio preguiçoso.

O futuro presidente afirma que o turismo pode fazer bem à Amazônia. Mais uma vez, chove no molhado: diversas agências oferecem viagens a terras indígenas.

Em vez de pagar multa por pesca ilegal, Bolsonaro pode ir a uma comunidade, ficar hospedado e fisgar peixe. Tudo perfeitamente legal, ajudando índios empreendedores a manter a floresta de pé.

Sua proposta de arrendar terras de índios já foi tentada no passado. Os conflitos mais tensos que temos foram causados por esse modelo: depois de uma ou duas gerações, os fazendeiros alegam direitos adquiridos e tomam as terras. Foi assim no sul da Bahia, na Raposa Serra do Sol e em Mato Grosso do Sul.

Também a autorização para mineração em áreas indígenas não é novidade. É prevista em lei. Mas precisa ser autorizada pelo Congresso e exige aval das comunidades. A legislação, na Constituição de 1988, não foi obra de "esquerdistas" ou "internacionalistas". Foram os militares que a conceberam.

O autor do texto foi o ex-ministro coronel Jarbas Passarinho, em consenso com indigenistas nacionais. A ideia: as terras são patrimônio inalienável da União, e os índios têm usufruto, ajudando a manter a floresta. As fotos de satélite, produzidas pela elite da aeronáutica (Inpe), provam que o modelo deu certo: o patrimônio da União só é preservado nessas áreas; fora, é grilado, desmatado e queimado.

Bolsonaro precisa conhecer mais a complexa realidade indígena. Se até o rei da Noruega veio ao Brasil se hospedar em uma aldeia, nosso líder também merece. Não precisa de coroa para ter majestade, basta despir-se do orgulho.

Há índios que querem viver isolados, e precisam de proteção; outros cursam as melhores universidades. A Unicamp criou um vestibular para eles; a Federal de São Carlos tem dezenas de alunos, e a de Roraima mantém cursos de temática especializada. E o que dizer dos indígenas do Exército? Alguém acha que vêm do "zoológico"?

Bolsonaro deve entender que, para ser um bom cristão, não basta repetir sempre o mesmo versículo da Bíblia, mas superar o pecado. No seu caso, a soberba.
Márcio Santilli - ISA

*Será que voces ajudam a divulgar essa mensagem do ISA?*

ISA - Instituto Socioambiental


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

NY Times compara Bolsonaro ao que há de pior! Editorial prevê um ano fatídico para o Brasil


Mal Jair Bolsonaro tomou posse como Presidente do Brasil no dia de Ano Novo e já soltou uma profusão de palavras de ordem da Extrema-Direita, minando as proteções ao meio ambiente, à demarcação de terras indígenas e à comunidade LGBT, colocando as organizações não-governamentais sob monitoramento do Governo e removendo os contratados do Governo que não compartilham de sua ideologia. Um emocionado Donald Trump tuitou com entusiasmo: "Parabéns ao presidente @JairBolsonaro, que acaba de fazer um grande discurso de posse - os EUA estão com você!"
O Sr. Bolsonaro retribuiu o amor, tuitando de volta: "Juntos, sob a proteção de Deus, vamos trazer prosperidade e progresso para o nosso povo!"
Essas ações foram uma performance triste, mas não inesperada, do novo líder do Brasil, um ex-oficial militar cujos 27 anos no Congresso brasileiro foram notáveis apenas por insultos grosseiros a mulheres, minorias sexuais e negros. “Bandido bom é bandido morto”, declarou ele; ele prometeu enviar "bandidos vermelhos" para a prisão ou o exílio; e dedicou seu voto pelo impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousseff ao oficial militar responsável por torturá-la na antiga ditadura militar.
Nada disso parecia importar para os eleitores que vivem em meio a um colapso econômico, uma onda de criminalidade e um escândalo de corrupção que minou qualquer fé no establishment político. A promessa de mudança de Bolsonaro, qualquer mudança, foi suficiente para levá-lo ao poder com 55% dos votos em outubro. A linguagem de seu discurso inaugural - "Eu venho diante da nação hoje, um dia em que as pessoas se livraram do socialismo, da inversão de valores, do estatismo e do politicamente correto" - foi como música para os ouvidos de sua base reacionária, dos investidores e do Sr. Trump, que compartilha de seus valores e de sua arrogância. O mercado de ações subiu para níveis recordes e o Real se fortaleceu em relação ao Dólar.
Mobilizar a raiva, o ódio e o medo virou a estratégia familiar dos pretensos autoritários, e Bolsonaro deu contornos liberais a pessoas como Rodrigo Duterte, das Filipinas, Viktor Orban, da Hungria, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Ele também foi apelidado de “Trump dos Trópicos” por seus comentários ultrajantes e base política de evangélicos, elites endinheiradas, políticos covardes e falcões militares.
Mas atacar as minorias e fazer promessas grandiosas só serve para compensar a falta de competência governamental ou de um programa coerente. Na primeira semana da presidência de Bolsonaro, os mesmos investidores e oficiais militares que celebravam um Presidente reacionário também tiveram motivos para pisar no freio. Enquanto seu ministro da Economia, Paulo Guedes, economista neoliberal formado na Universidade de Chicago, que ensinava Economia no Chile durante a era Pinochet, prometeu reformar o pesado sistema previdenciário brasileiro, Bolsonaro fez comentários improvisados em que sugeria uma idade mínima de aposentadoria bem abaixo do que sua equipe estava ponderando.
Ele também alarmou vários eleitores quando, ao contrário dos compromissos de campanha, falou de aumento de impostos, quando questionou uma proposta de parceria entre a Embraer e a Boeing e quando sugeriu que permitiria uma base militar americana em solo brasileiro. Seu chefe de gabinete disse que o presidente estava "errado" sobre o aumento de impostos, as ações da Embraer despencaram e os generais se mostraram descontentes.
O Sr. Bolsonaro está apenas começando. À medida em que aumenta o seu ímpeto, com a memória da ditadura militar ainda forte, muito dependerá da capacidade das instituições brasileiras para resistir ao seu ataque autocrático. Muito também dependerá da capacidade de Bolsonaro de realizar reformas econômicas extremamente necessárias. Esse teste começa em fevereiro, quando o novo Congresso se reúne - o Presidente comanda apenas uma coalizão instável de vários partidos, e ele vai encontrar forte oposição a suas reformas. Um ano fatídico começou para o Brasil.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Aldeia indígena em PE tem escola e posto de saúde incendiados; índios temem novos ataques




Uma escola e um PSF (Posto de Saúde da Família) da aldeia Bem Querer de Baixo, localizada no município de Jatobá (PE), foram incendiados na madrugada desta segunda-feira (29). Os dois prédios estavam localizados na principal área de conflito indígena com posseiros, dentro da Terra Indígena dos Pankararus, localizada na região do médio do São Francisco em Pernambuco. Ninguém ficou ferido no ataque criminoso.

Segundo lideranças indígenas, a principal suspeita é retaliação de posseiros expulsos, que podem estar colocando medo na comunidade indígena depois que Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito presidente da República. A aldeia Bem Querer de Baixo é a área de maior conflito de posseiros com os índios.

"Hoje nosso povo acorda com uma escola e um PSF destruídos pelo fogo do ódio, preconceito e da intolerância. A Escola São José e o PSF, prédios da Prefeitura de Jatobá, localizados na aldeia Bem Querer de Baixo, foram criminosamente incendiados tendo praticamente perda total da estrutura física, móveis, documentos, equipamentos... Pouca coisa se salvou", relatou em nota o povo Pankararu.


O UOL entrou em contato com lideranças indígenas, na noite desta segunda-feira, e os índios relataram que temem novos ataques e pediram para não serem identificados. Segundo uma liderança indígena, eles observaram nas câmeras de uma casa próxima ao PSF que na noite de domingo, por volta das 22h40, a luz do posto de saúde apagou. Na manhã desta segunda, os índios constataram que o prédio e a escola foram destruídos.

"O posto de saúde e a escola não são próximos e é muita coincidência dois prédios terem pegado fogo sem que alguém não tenha feito isso. Estamos amedrontados porque somos constantemente ameaçados por posseiros que foram expulsos em setembro. Pode ser um recado que eles terão respaldo para nos atacar com a eleição de Bolsonaro", disse uma liderança dos Pankararus que pediu para não ser identificada temendo represálias.

Durante a campanha eleitoral, o capitão reformado do Exército prometeu acabar com a "indústria da demarcação de terras indígenas" e prometeu "retaguarda jurídica" para proprietários de terra que sofrerem invasões. Ele também prometeu juntar os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, mas posteriormente voltou atrás.

Em setembro, 12 famílias de posseiros que moravam na aldeia Bem Querer de Baixo foram expulsas da invasão da Terra Indígena que ocupavam. A desocupação precisou de força policial, pois os posseiros descumpriram ordem judicial de deixarem o local pacificamente. Durante a desocupação da terra, posseiros ameaçaram os índios, de acordo com os Pankararus, e destruíram imóveis que foram construídos na área desocupada. Segundo os índios, os posseiros ocupavam 20% da Terra Indígena.







Locais sem câmeras de segurança


Sob constantes ameaças, as lideranças Pankararus instalaram câmeras para tentar intimidar a ação de criminosos. Entretanto, os dois prédios atacados não possuem circuito de imagens.


"Tanto a desocupação das nossas terras pelos posseiros, quanto as declarações de Bolsonaro sobre os índios gerou um grande discurso de ódio e esse ataque pode ser gerado por empolgação da eleição, além do conflito gerado pelos posseiros na reintegração de posse", contou a liderança indígena, que citou outras atitudes violentas sofridas. "Quando a área estava sendo desocupada, eles fizeram muitas ameaças e nos deixaram sem água quebrando a tubulação. As nove lideranças aqui vivem em suas casas com câmeras para todos os lados", completou.

Após os incêndios, os índios relataram que estão temerosos em dormirem na noite desta segunda, pois não há policiamento no local. "As entradas das aldeias não têm vigilantes e nós vamos tentar dormir mesmo com medo. Já tomamos medidas de segurança de não sair de casa à noite e não andar de moto para não ficarmos expostos. Hoje foi um prédio, mas se a polícia não agir, pode ser um de nós atacado", disse.


O povo Pankararu lamentou a perda dos prédios, que eram os únicos na aldeia. Eles afirmaram que os mais prejudicados aos ataques são as crianças, que estarão sem escola nas vésperas do fim do ano letivo, e a comunidade sem o PSF. O posto realizava cerca de 500 atendimentos por mês. "A nossa alma que é constantemente ferida, machucada... Mas, jamais silenciada", finaliza a nota.


As terras dos Pankararus têm 8.100 hectares distribuídos nos municípios de Petrolândia, Jatobá e Tacaratu, localizados na região do médio do Rio São Francisco. Atualmente, são 7.200 índios morando na aldeia.


A Polícia Civil de Pernambuco informou que está investigando o caso e que um inquérito policial foi instaurado, nesta segunda-feira, depois que uma equipe periciou as áreas incendiadas.


Aliny Gama
Colaboração para o UOL, em Maceió
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/10/29/aldeia-indigena-em-pe-tem-escola-e-posto-de-saude-incendiados-indios-temem-novos-ataques.htm?fbclid=IwAR2dXITy6rxOrPsg1z7ZlzLwkF1_le4xQWmIi4HStB35VAe8KKLe-nWxw5Y

Fim do “socialismo” no Brasil significa a destruição das políticas sociais



Fim do “socialismo” no Brasil significa a destruição das políticas sociais 

 *José Álvaro de Lima Cardoso

 O governo Bolsonaro acena com a implantação de uma base militar dos Estados 
Unidos no Brasil, o que já se esperava, dado o grau de servilismo ao Império, por parte 
da equipe que assumiu o governo federal. A proposta não é consensual no interior do 
governo, que, mesmo sendo um dos mais entreguistas da história, é improvisado e 
atravessado por grandes contradições. Alguns oficiais de alto escalão das Forças 
Armadas, por exemplo, já se manifestaram com reservas em relação ao problema, 
observando que a medida não é coerente com a política de defesa do país, além de ser 
desnecessária para o momento, já que o Brasil não se encontra sob ameaça militar. 
 Temer já vinha negociando a concessão para os EUA, do Centro de Lançamento de 
Alcântara, da Força Aérea, no estado do Maranhão, tido como um dos melhores pontos 
de lançamento de foguetes e satélites do mundo. Pelo que se divulgou na imprensa, as 
condições dos norte-americanos, para uso da base, são de fato, imperiais. Querem 
alugar a base sem nenhum controle do governo brasileiro, o que significaria na prática, 
que o local seria tratado como território dos EUA. Apesar das contradições que suscita, 
esse tipo de concessão ao Império é típico desse governo, e deveremos assistir muitos 
atos semelhantes. Se a sociedade não reagir, inclusive, deveremos assistir ações ainda 
mais graves. 
 Ações contra a soberania nacional representam a outra face de ações contra as 
condições de vida da população. Não é por nenhum acaso que, ao mesmo tempo, em 
que acena com a entrega da Base de Alcântara para os EUA, o governo afirma que irá 
acabar com o “socialismo” no Brasil. Essa frase não deve ser vista apenas como uma 
afirmação ridícula (que é, de fato), mas deve ser corretamente interpretada: fim do 
socialismo significa fim das políticas sociais, fruto de anos de lutas, como a Seguridade 
Social (que abrange SUS, Assistência Social e Previdência Social). Políticas como a de 
combate a fome, que conseguiu o mais importante avanço social do país nos últimos 50 
anos (tirando o Brasil do Mapa da Fome, da ONU) são consideradas “socialismo” e portanto, deverão ser esvaziadas, conduzindo o país de volta para o famigerado Mapa. É 
bastante sintomático, aliás, que uma das primeiras medidas de Bolsonaro tenha sido a 
extinção do Conselho de Segurança Alimentar. 
 Paulo Guedes e sua equipe têm uma missão, sobre a qual não disfarçam, que é 
aprofundar as ações decorrentes do golpe de Estado em andamento no Brasil, no 
referente ao fim da soberania e dos direitos sociais e trabalhistas. Irão destruir 
instrumentos públicos de intervenção estratégica, que respondem pelo fato de que, entre 
1950 e 1980 o Brasil foi o país que mais fez crescer o seu PIB no mundo. Pretendem 
entregar o país para o sistema financeiro e grandes grupos multinacionais, que não têm 
nenhum compromisso com projeto nacional o bem-estar da população. A política geral, 
é de desmonte de tudo que é público e sabem que precisam aproveitar os primeiros 
meses de governo, quando a população ainda estará hipnotizada por todo o processo de 
guerra híbrida do qual é vítima.


 Entrega das riquezas nacionais e da soberania, e destruição de direitos, são duas 
faces da mesma moeda. Por exemplo, o Orçamento da União, havia estipulado que o 
salário mínimo de 2019 seria de R$ 1.006, mas Bolsonaro assinou um decreto 
estipulando o orçamento em R$ 998, R$ 8 a menos. Essa diferença, aparentemente 
insignificante, que individualmente representa quase nada, significa uma enorme 
redução da massa salarial, já que no Brasil 48 milhões de pessoas têm sua renda 
referenciada no salário mínimo nacional, segundo estudo recente do DIEESE. Retirar 
R$ 8 reais do salário mínimo significa tirar de circulação (para aposentados, 
trabalhadores que recebem 1 ou 2 salários mínimo, empregadas domésticas, etc.) 
bilhões de reais em um ano. 
 De um lado enfraquecem o Estado nacional, entregando as riquezas nacionais, 
destruindo as políticas de soberania energética, desmontando a Petrobrás e entregando o 
Pré-sal, negociando as reservas estratégicas de água para as multinacionais (incluindo o 
Aquífero Guarani) e reduzindo o orçamento em ciência e tecnologia. De outro lado, 
destroem mercado interno, desmontam as políticas de segurança alimentar fazendo aumentar a fome, congelaram gastos primários (como educação e saúde) por 20 anos, 
inviabilizam as empresas nacionais (inclusive do setor privado), liquidaram as leis de 
proteção ao trabalho, estão destruindo o que sobrou da indústria e condenando o Brasil a 
ser um eterno fornecedor de matérias primas para o mundo desenvolvido. Lutar contra 
tudo isso não é uma escolha, mas uma imposição da realidade e uma questão de 
sobrevivência. 

 *Economista 07.01.19

CAROS ELEITORES DE BOLSONARO Tenho 03 verdades para dizer pra vocês:



CAROS ELEITORES DE BOLSONARO
Tenho 03 verdades para dizer pra vocês:

1. VOCÊS NÃO SÃO A MAIORIA
Mais de 89 MILHÕES de brasileiros NÃO votaram em Bolsonaro,
o qual recebeu apenas 57 milhões de votos.

E, não, não existem 89 milhões de petistas no Brasil.

Não é porque a pessoa não votou em Bolsonaro
que ela é petista ou adora o Lula.

Existem 73 partidos políticos no Brasil,
e apenas 15 milhões de pessoas são filiadas a partidos políticos,
dos quais o PT conta com apenas 2 milhões de filiados.
Então aceite: ao menos 87 milhões de pessoas NÃO votaram em Bolsonaro
e não são do PT.

2. TODO PRESIDENTE RECEBE CRÍTICAS
Fernando Collor recebeu críticas e várias manifestações foram feitas até ele receber o Impeachment.

FHC também sofreu duras críticas e também quiseram tirá-lo do poder.

Lula, mesmo no ápice de sua popularidade, sofreu críticas e quiseram tirá-lo do poder.

Dilma foi criticada do início ao fim de seu governo, e as maiores manifestações da história deste país foram feitas até ela ser retirada do poder.

Temer, então, ouviu Fora Temer até sair do poder.

Então por que raios vocês não querem aceitar críticas ao Bolsonaro?
Ele é algum Deus?

Ele será criticado sempre que fizer coisas ruins para a população, sim, enquanto houver democracia e pessoas de bom senso neste país.

Aceitem que dói menos.


3. POLÍTICA NÃO É CAMPEONATO DE FUTEBOL
Parem com esse mimimi de que tem gente torcendo contra.
Não existe essa história de que há pessoas torcendo pra dar errado.
Ninguém quer ver o Brasil afundando.

Tenham maturidade política para cobrar uma boa gestão do Presidente que ajudaram a eleger.
Se ele acertar, aplaudam.
Se errar, critiquem.
Se fizer algo inaceitável, retirem ele do poder.

Na primeira semana, Bolsonaro nomeou 9 ministros investigados por corrupção, 01 dos quais é réu confesso e ele nomeou como Chefe da Casa Civil;

Nesta mesma semana ele decretou censura ao COAF para que o departamento não divulgue mais nada a respeito do caso Queiroz, numa atitude descarada para encobrir o escândalo de corrupção envolvendo sua família;

Para completar, aliou-se a Rodrigo Maia (DEM), que está atolado em escândalos de corrupção, e o indicou para Presidência da Câmara dos Deputados.

Enquanto isso, deu reajuste menor do que o previsto para o salário mínimo, extinguiu o Ministério da Cultura e o Ministério do Trabalho, e já anunciou que vai extinguir a Justiça do Trabalho também, porque segundo ele é muito difícil ser patrão neste país, e o brasileiro tem que optar entre ter direitos ou ter emprego.

Por fim, entregou a chave do galinheiro às raposas: agora o Ministério da Agricultura é que demarcará as reservas indígenas, o que certamente fará aumentar o desmatamento em nosso país.

Ou seja, não é cedo para criticar: em 01 semana Bolsonaro já causou o retrocesso de décadas.

Portanto, entendam:
Bolsonaro não é um santo. Vocês não estão numa igreja.
Comportem-se como eleitores conscientes,
não como fanáticos alienados.

:::: Augusto Branco

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

CARTA ABERTA A DAMARES ALVES, EXCELENTÍSSIMA MINISTRA DA MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS



CARTA ABERTA A DAMARES ALVES, EXCELENTÍSSIMA MINISTRA DA MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS

        Senhora Ministra, ontem eu também fiz brincadeiras em decorrência do seu polêmico vídeo. Brincadeiras e deboches também são formas de resistência. Sua postura e suas falas, entretanto, exigem uma análise séria e demandam respostas.
        Há tempo observo seus vídeos que circulam na Internet e, como professora, sinto-me profundamente ofendida e humilhada. Venho percebendo seu empenho em colocar a sociedade contra a educação brasileira e seu magistério. Para ilustrar o que afirmo, além dos links de dois vídeos que seguem abaixo deste texto, vou citar algumas das suas afirmações que me têm deixado triste e profundamente revoltada. Sobre o famoso “Kit Gay”, Senhora Ministra, que jamais existiu e a senhora sabe disso, tratava-se na verdade, do “Projeto escola sem homofobia”, que seria voltado para os professores, não para os alunos. Nesse projeto, sequer havia o livro “Aparelho sexual e Cia”. Projeto esse que foi vetado pelo governo federal em 2011, devido ao fato de ter sido alvo de críticas dos setores conservadores, os quais a senhora faz parte. Aproveito para alertar que muitas das escolas brasileiras, sequer possuem biblioteca, a minha é uma delas. O que temos, no momento, é uma Kombi doada pela comunidade escolar e transformada em biblioteca através de um projeto meu.
        Frequentemente a senhora usa suas falas, nos púlpitos das suas igrejas, para denegrir o trabalho dos professores e para nos colocar como responsáveis pelos problemas de uma geração, inclusive nos ataca como agentes de “perversão” e “doutrinação”.
        Em um dos seus vídeos, a senhora menciona um material que supostamente faria apologia ao sexo com animais. Senhora Ministra, talvez a senhora não conheça muito bem a regulamentação do exercício do magistério. Nós, professores, somos fiscalizados pelos nossos superiores: coordenação, direção e secretarias de educação. Os materiais que utilizamos, os livros escolhidos e até mesmo as nossas provas, são analisadas e aprovadas pelas instâncias superiores antes que cheguem aos os alunos.     
        Nesses vídeos a senhora também se refere a um “suposto projeto” de 2004 e com tom irônico, a senhora fala: “Não posso falar o nome da prefeita, não posso falar que ela é do PT e também não posso falar que foi esposa do Suplicy, mas juntamente com o grupo GTPOS, ela gastou mais de dois milhões de reais num programa”. Programa esse, ao qual a senhora afirma ter sido atribuída a função de promover, nas creches, o incentivo a ereção e masturbação de bebês de sete meses. Com essa sua fala, a senhora coloca os pedagogos e pedagogas que trabalham com a educação infantil na condição de criminosos, mais do que isso, na condição de doentes pervertidos. Meus colegas pedagogos, senhora ministra, que tão atenciosamente cuidam das nossas crianças e neste momento abro um parêntese para lembrar a heroica professora Helley Abreu Batista que morreu, com 90% do corpo queimado, após retirar seus alunos de um salão em chamas e de lutar contra o vigilante que ateou fogo à creche, em Janaúba, norte de Minas Gerais, em 2017. Meus colegas pedagogos, senhora ministra, jamais cometeriam esse crime, nem mesmo sob tortura. 
          A senhora, nos seus ataques, sempre focou a educação e o magistério brasileiro, esse foco não é inocente, é estratégico. Desmoralizar, humilhar, deslegitimar e demonizar os professores, colocar a sociedade contra nós e contra a educação, só nos enfraquece ainda mais. Como se já não bastassem nossos baixos salários, a falta de condições estruturais, a ausência e a falta de incentivo a bons cursos de formação continuada. Como se já não bastasse o desrespeito e a violência com que somos tratados em nossos atos de protesto, paralização e greve, enquanto políticos protegidos e aquartelados, debocham das humilhações das quais somos vítimas. Ao nos enfraquecer, a senhora enfraquece a educação e isso lhe é extremamente útil e providencial. Um povo sem acesso à educação de qualidade é muito mais fácil de “doutrinar”, de transformar em “ovelhas”, em “inocentes úteis” e nós sabemos muito bem onde, verdadeiramente, vem ocorrendo a “doutrinação” no Brasil e sob que circunstâncias e métodos.
        Vou falar brevemente, Senhora Ministra, sobre o que fazem os professores para muito além das suas atribuições. Somos nós que, na maioria das vezes, descobrimos quando um aluno possui deficiência visual, porque na sala de aula temos parâmetros de comparação. O aluno está sentado na mesma distância do quadro em que estão seus colegas, mas franze a testa, comprime os olhos. Somos nós que chamamos os pais e alertamos.
         Muitas vezes, Senhora Ministra, somos nós que percebemos um problema mais grave. Nossos olhos treinados e experientes conseguem detectar o aluno ou aluna que se isola, nega-se a realizar trabalho em grupo, não participa do recreio, tende a ficar no mesmo lugar e realizar movimentos repetitivos com o corpo. Somos nós que alertamos os pais e depois da avaliação médica, enquanto a família vive o luto de um diagnóstico de autismo, por exemplo, nós professores seguimos trabalhando métodos e estratégias para incluir esse aluno da melhor forma possível.
         Somos nós, Senhora Ministra, que muitas vezes percebemos a automutilação em alguns alunos e ela não se deve ao nosso trabalho de “doutrinação” como a senhora tenta afirmar, ao dizer que confundimos nossas crianças com a “ideologia de gênero”. Os adolescentes que chegaram até mim com automutilação, viviam um cotidiano familiar desestruturado. Desestruturado no seio da “família tradicional” que a senhora tanto defende. O que a senhora propaga e demoniza como sendo “ideologia de gênero”, na realidade do chão da sala de aula, Senhora Ministra, é a exigência do respeito, é o cuidado para com todos os alunos, é a luta contra o bullyng que pode destruir emocionalmente um aluno e até levá-lo ao suicídio, é a educação contra a cultura do estupro e do machismo. Nós enfrentamos salas de aulas superlotadas, lidamos com as particularidades de cada aluno e incentivamos o respeito para com todos, sem o qual, não seria possível ministrar uma aula.
        Somos nós, Senhora Ministra, que percebemos pela postura corporal, pelo silêncio, pelo olhar triste de quem suplica por socorro, quando uma criança ou adolescente é vítima de violência sexual, violência essa, normalmente sofrida no seio da “família tradicional”. Somos nós, Senhora Ministra, que conversamos com essa criança, que ouvimos o relato do seu sofrimento, que tomamos as providências, que chamamos o conselho tutelar e somos nós que acompanharemos essa criança ou adolescente com atenção e cuidado redobrados.
        Finalmente, Senhora Ministra, são inúmeras as nossas atribuições, as quais nos entregamos com amor e seriedade, respeito para com nosso diploma, para com nosso juramento e para com a instrução conquistada através da disciplina, do estudo e da leitura que, certamente, não foi adquirida no espaço do whatsapp.
        Somos nós, professores, que olhamos, cuidamos, educamos, instruímos e ensinamos as crianças e jovens deste país. Somos nós que protegemos essas crianças e jovens quando a família falha e quando o Estado falha.
        Esta minha carta aberta tem dois objetivos: pedir-lhe mais respeito para com a classe do magistério. Venho também, oferecer-lhe um conselho, desça dos seus delírios fakes, Senhora Ministra, pise no chão e encare a realidade. Porte-se com a seriedade que a importância do seu cargo exige. Deixe assuntos fúteis como cor de roupa adequada para seus colóquios no púlpito da igreja, No exercício da sua atual função como ministra, olhe para o magistério brasileiro com olhos da verdade. Olhe pelos quase seis milhões de crianças sem o nome do pai nos seu registro. Encare a quinta maior taxa de feminicídio no mundo e que vem aumentando assustadoramente, alimentada pela cultura do machismo e da violência. Olhe para os milhões de mulheres que, longe da família tradicional, criam seus filhos sozinhas e com dignidade. Olhe para as crianças e jovens que estão nas ruas, Senhora Ministra. Lembre-se que essas crianças não se perdem na rua, foram perdidas dentro de casa, no seio das famílias tradicionais ou não e negligenciadas pelo Estado, as ruas apenas as adotam. Olhe para os LGBTs e às violências que têm sido vítimas. O Brasil é o país quem mais mata LGBTs no mundo e temos visto esse número aumentar, incentivado pela cultura da intolerância.
        A senhora deve estar se perguntando: “Quem é essa professorinha petulante que me escreve essa carta aberta?” Vou facilitar para a senhora, vou me apresentar. Sou Marcia Friggi, poeta e professora de Língua Portuguesa e Literatura do Estado de Santa Catarina. Exerço meu cargo após ter sido aprovada em concurso público, submetida a rigorosos exames médicos periciais, além de ter passado pelos três anos de estágio probatório. Sou aquela professora que foi violentamente agredida por um aluno em 2017, caso que teve repercussão nacional e internacional. Sou a professora que, após violência física, sofreu linchamento virtual por parte dos que comungam das suas ideias. A professora que teve sua imagem com o rosto ensanguentado, usada sem autorização, pelos mesmos que me atacaram virtualmente, para promover a campanha política eleitoral do seu candidato.
         Naquele período, visitei o inferno e sobrevivi. Sobrevivi à depressão, à fobia social, a crises de ansiedade, à insônia e à vontade de morrer. A tudo isso, talvez se deva a minha ausência de medo. Eu não tenho medo porque sou uma sobrevivente, porque na minha casa não há uma agulha sequer que não tenha sido comprada com o suor do trabalho honesto. Não tenho medo porque não ocupo e nunca ocupei cargo comissionado. Não tenho medo porque nunca dependi de favores políticos. Não tenho medo porque pelas minhas mãos jamais passou dinheiro público. Finalmente, Senhora Ministra, não tenho medo porque se ao seu lado está o governo atual e suas “ovelhas”, do meu está o mundo. Do meu lado está um mundo inteiro que não aceita mais retrocesso. Um mundo que deseja respeito para com todas as pessoas. Um mundo que não aceita mais discriminação, intolerância, preconceito, machismo, homofobia, xenofobia. Um mundo que deseja que uma mulher possa terminar uma relacionamento sem ser agredida ou morta. Um mundo que respeita a vida e a natureza. Um mundo que se pretende mais humano, justo e igualitário. Não tenho medo, Senhora Ministra, porque minha militância pelas causas que considero justas sempre foram exercidas nas ruas e no espaço virtual, nunca na sala de aula. Não tenho medo, Senhora Ministra, porque sou adepta da paz e minha única arma é a palavra e é dela que venho me utilizando como um instrumento de amor à vida, à liberdade, à arte e à resistência. Já participei de algumas coletâneas como escritora, minha última participação foi no “Mulherio das Letras”, o que muito me honra. Neste ano de 2019, lançarei meu primeiro livro de poesia, no qual estão muitos dos meus poemas de cunho social e resistência. Está também, entre meus projetos mais importantes, o livro sobre “denúncia dos flagelos que sofre o magistério brasileiro”, o qual percebo de suma importância, considerando os constantes ataques e humilhações a que somos submetidos.
Ainda nos veremos, Senhora Ministra, nas batalhas pacíficas da vida, das quais eu jamais fugi.

Post Scriptum
Desisti de colocar os links aqui, pois os vídeos vêm junto. Eles estão no YouTube

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