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sábado, 29 de dezembro de 2018

Sr. Bolsonaro 

Sobre sua posse

além de não levar a mim mesma para sua posse, informo que dona poesia também não irá! Ela estará em delírio gozoso com Gullar, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Brecht, Maiakovski e Neruda cantando para o proletariado.

Não irá a boniteza do povo indígena que rasgueia a floresta e resiste ao trator da ganância com urucum, jenipapo e cocares de uma sabedoria inatingível pelos senhores da devastação e da monocultura. 

Não irá a alegria do povo negro. Nesse dia o Rei de Aruanda descerá a terra para defumar os terreiros e desmanchar demanda dos portadores da desesperança.

Também, não participará da farsa toda aquela gente que samba, canta e sabe que "amanhã será outro dia".

Não irão as mãos cavouqueiras que  acariciam o milharal florido nos campos da reforma agrária, como se fosse os cabelos da mulher amada.

Não serás presenteado com a felicidade dos casais homoafetivos que sabem amar e desarmam a hipocrisia e o medo com beijos e afetos.

Tampouco  o artista que constrói sua arte com leveza, suor, trabalho e horas de êxtase para o gozo sublime dos que sabem gozar.

A empregada doméstica e sua carteira assinada não desfilarão no tapete da mentira. 

Não irá a dignidade do cotista que honra sua própria história e sabe de onde veio e para onde vai.

As mulheres libertárias estarão muito ocupadas tecendo a liberdade com os fios de ouro da igualdade,  da justiça e da fraternidade. Não irão! Contudo os sussurros delas chegarão aos seus ouvidos, como o vento cortando o tempo: #elenão

Certamente, somente os que andam desacompanhados de si mesmos ao teu lado estarão.

                                                     Lilia Diniz

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