Bolsonaro é ameaça para democracia do Brasil, diz imprensa estrangeira
Nos EUA, Europa e América Latina, o candidato é associado aos adjetivos 'racista', 'misógino', 'homofóbico', 'pró-ditadura' e, sobretudo, 'antidemocrático'
Alvo de reportagens e artigos de opinião em jornais e revistas do mundo todo, o candidato do PSL para a Presidência da República, Jair Bolsonaro, tem chamado a atenção não apenas por liderar as pesquisas eleitorais. Mas, sobretudo, pelo seu perfil e pela ameaça que representa, segundo todas as publicações, à democracia brasileira.
Referência para investidores no mundo inteiro, o britânico Financial Timespublicou nesta sexta-feira (5) o artigo “O ‘destino trágico’ do Brasil com a rebelião antidemocrática surgindo novamente”. O texto atribui à raiva a liderança do candidato do PSL nas pesquisas e lembra ter esse mesmo sentimento sido capturado pelos motoristas de caminhão na greve de maio passado.
“Se Bolsonaro, um apoiador da ditadura militar do Brasil e até recentemente um párea político, se comprovar um desastre como presidente, tanto melhor. O sistema político implodiria, e o Brasil poderia recomeçar de novo”, afirmou o correspondente do FT em São Paulo, Joe Leahy.
“Para um eleitorado raivoso, o ardente Bolsonaro pode ser o candidato perfeito — um homem-granada com o pino removido, pronto para jogar no sistema político moribundo do Brasil.”O jornal francês Libération, em seis páginas publicadas nesta quinta-feira (4), resumiu o candidato como “racista, homofóbico, misógino e pró-ditadura”. Suspirou em seguida: “E ele ainda seduziu o Brasil”.
Ao descreverem candidatos e processos eleitorais, os meios estrangeiros tendem a sintetizar aos seus leitores os perfis dos concorrentes, as perspectivas e riscos para o país, as idiossincrasias locais de uma maneira que a imprensa nacional tende a fazer apenas em editorais e artigos de opinião.
O apanhado geral dos meios internacionais quase sempre trazem retratos diferenciados do que se passa no país, conforme suas linhas editoriais e especificidades. Desta vez, porém, publicações conservadoras e esquerdistas de vários cantos do mundo expressaram de forma contundente a surpresa e temor ao conhecerem os resultados das mais recentes pesquisas eleitorais no Brasil. A possibilidade de um candidato insensível aos princípios democráticos ser eleito presidente brasileiro as assustou.
A revista The Economist trouxe na capa da última edição seu rosto em amarelo, sob fundo verde, com a manchete: “A última ameaça da America Latina”. Na reportagem, o chama de “um populista de extrema direita” e adverte os brasileiros para o risco de, ao elegerem Bolsonaro, “correrem o risco de tornar tudo pior”
Boa parte das publicações traz, para elucidar o fenômeno eleitoral Bolsonaro a seus leitores, as frases mais radicais do candidato. O Libération mencionou a declaração dele no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 30 de julho, sobre a escravidão no Brasil. “O português nem pisava na África. Foram os próprios negros que entregaram os escravos”, dissera Bolsonaro.
O New York Times, em artigo de Carol Pires, lembrou o voto do deputado federal em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. “Ele dedicou seu voto ao chefe de um centro de tortura da ditadura. Muito antes de ser presidente do Brasil, a senhora Rousseff havia sido uma guerrilheira e foi torturada pela ditadura”, sublinhou o artigo. Jair Bolsonaro em matéria do ‘Le Figaro’
Um perfil de Bolsonaro — “O Brasil nas garras da tentação autoritária” — foi o modelo escolhido pelo jornal francês Le Figaro para apresentá-lo a seus leitores como possível presidente do país a partir de 1º de janeiro. O texto começa com uma constatação dificilmente questionável: ele “nunca brilhou na caserna nem na Câmara dos Deputados, a não ser por suas provocações e discursos”.
“Seus alvos favoritos sempre foram feministas, homossexuais, negros, indígenas, progressistas, criminosos…”, diz o texto.
“Mas hoje sua franqueza avessa ao politicamente correto, sua defesa da lei e da ordem, sua imagem de homem íntegro seduz um em cada cinco brasileiros, cansados da corrupção política, da violência nas ruas e da interminável crise, com desemprego em massa”, explica.
Comparações a outros líderes foi uma das maneiras encontradas por vários meios para explicar Bolsonaro a seus leitores. O portal News, da Austrália, o chamou de “Donald Trump do Brasil”, em referência ao sempre polêmico presidente dos Estados Unidos. Mas corrigiu-se em seguida.
“Isso não é justo com o senhor Trump”, afirmou. “O político ultraconservador apoia abertamente a tortura. Ele também tem uma visão positiva da brutal ditadura militar que governou o Brasil por mais de duas décadas. Ele tem conseguido manchetes no mundo todo com suas declarações depreciativas sobre negros, gays e mulheres”, completou, para em seguida estampar as principais frases do candidato.O jornal argentino Clarín deu um toque de humor em reportagem de sua correspondente em São Paulo, Eleonora Gosman, publicada na sexta-feira (5). “O que têm em comum o candidato Jair Bolsonaro com Alexandre Magno, o rei da Macedônia no século IV antes de Cristo? Absolutamente nada. A menos, claro, que a comparação seja feita pelo general Antonio Hamilton Mourão, que o acompanha na qualidade de vice na chapa presidencial liderada pelo deputado”, afirma o texto, mencionando frase do militar aposentado.
Jagunço
O jornal português O Público comparou Bolsonaro ao igualmente polêmico Rodrigo Duterte, presidente da Indonésia com viés autoritário. Mas, o título do artigo incorporou uma alusão a um tipo bastante conhecido pelos brasileiros: “Bolsonaro, o jagunço à porta do Planalto”.
“O perigo da chegada do jagunço-salvador-da-pátria à Presidência da República é real. Quando os democratas falham, não só perdem só as eleições — abrem as comportas de represas, muito difíceis de estancar”, advertiu.
Além das seis páginas de reportagem de quinta-feira (4), o Libération publicou artigo de sua correspondente em São Paulo, Chantal Rayes, sobre o maior evento contra a eleição de Bolsonaro: as manifestações femininas de 29 de setembro, sob o lema #EleNão.
“Além de atacar os negros e homossexuais, o candidato da extrema direita multiplica suas agressões contra as mulheres”, diz o artigo. “Seu machismo e misoginia superaram todos os limites”, acentua o jornal La República, do Peru, em artigo de 30 de setembro também sobre as manifestações das mulheres partidárias do #EleNão.
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